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Destaques

Sonhos: mensageiros do Inconsciente, portais para a totalidade. por Leonardo Climaco

A psicologia analítica junguiana oferece uma abordagem ampla e profunda sobre os sonhos, considerando-os como uma porta de entrada para o entendimento do inconsciente e um instrumento essencial para a jornada da individuação. Jung reconheceu os sonhos como expressões significativas da totalidade da psique, não limitados aos aspectos reprimidos do inconsciente. Para ele, os sonhos são mensagens simbólicas do inconsciente, carregando não apenas de experiências pessoais, mas também de elementos arquetípicos presentes no inconsciente coletivo. "Os sonhos são a manifestação mais imediata do que é essencialmente irrepresentável na consciência. São indicações claras de que o inconsciente não é apenas um depósito, mas uma das fontes mais profundas da vida psíquica. [...] Eles trazem mensagens e revelações, nos mostram facetas inexploradas da personalidade, e são uma via de acesso ao inconsciente coletivo."   (Jung, 2021) Carl Jung - Red Book (Liber Novus) Os sonhos, na maioria das ve

A personalidade provisória e a interpretação da experiência pela criança, por James Hollis.

 Trecho do capitulo 1,  A personalidade provisória, do livro "A passagem do meio" de James Hollis

James Hollis

(...) Para muitas pessoas, devido ao impacto da pobreza, da forma, dos diversos tipos de abuso, a experiência inicial do mundo é devastadora para sua concepção do eu. Quando crianças, elas sintetizam suas capacidades afetivas, cognitivas e sencientes para não serem mais magoadas. Elas se transformam nos sociopatas e nas pessoas com distúrbios de caráter que enchem nossas prisões e rondam nossas ruas. 

 Lamentavelmente, para estes assim atingidos, o potencial de crescimento e de transformação é sombrio; tornar-se receptivo ao mundo da dor exigido pelo crescimento é por demais assustador. Quase todos nós sobrevivemos como pessoas meramente neuróticas, ou seja, divididos entre a natureza intrínseca da criança e o mundo para o qual fomos socializados. Podemos até concluir que a personalidade adulta não examinada é um agregado de atitudes, comportamentos e reflexos psíquicos ocasionados pelos traumas da infância, cujo objetivo fundamental é controlar o nível de sofrimento experimentado pela memória orgânica da infância que conduzimos dentro de nós. Podemos chamar essa memória orgânica de "criança interior", e nossas várias neuroses representam estratégias inconscientemente desenvolvidas para defender essa criança.(...)

Psicologia analítica

A natureza do sofrimento infantil pode ser generalizada de forma ampla em duas categorias básicas: 1) A experiência da negligência ou do abandono, e 2) A experiência de ser esmagado pela vida.

Aquilo que podemos chamar de personalidade provisória é uma séria de estratégias escolhidas pela frágil criança para lidar com a angústia existencial. Esses comportamentos e atitudes são tipicamente agregados antes dos cinco anos de idade e são elaborados dento de um surpreendente leque de variações estratégicas com um motivo comum - a autoproteção.

Embora as forças externas, como a guerra, a pobreza ou uma deficiência pessoal, desempenhem um importante papel na maneira como a criança percebe o eu e o mundo, a influência fundamental sobre a nossa vida é oriunda do caráter do relacionamento entre os pais e a criança.(...)

(...) As conclusões que a criança tiram sobre o mundo são oriundas portanto de um estreito domínio, sendo inevitavelmente parciais e prejudiciais. A criança não é capaz de dizer: "Meu pai (ou minha mãe) tem um problema, e este exerce um efeito sobre mim". A criança só consegue chegar a conclusão de que a vida é preocupante e o mundo um lugar inseguro.

Ao tentar decifrar o ambiente pai-filho, a criança interpreta a experiência de três maneiras básicas.

1) A criança interpreta fenomenologicamente o vínculo palpável e emocional, ou sua falta, como declaração sobre a vida em geral. Ela é previsível e protetora, ou incerta, dolorosa e precária?

2) A criança interioriza comportamentos específicos dos pais como declaração a respeito do eu. Como a criança raramente consegue objetivar a experiência ou perceber a realidade interior dos pais, a depressão deles, a raiva ou a ansiedade serão interpretadas como declarações de fato a respeito da criança. "eu sou como sou vista, ou como sou tratada", conclui a criança.

3) A criança observa os comportamentos das lutas do adulto com a vida e interioriza não apenas esses comportamentos, mas também as atitudes que eles sugerem a respeito do eu e do mundo. Por conseguinte, a criança tira grandes conclusões a respeito de como lidar com o mundo.

As conclusões sobre o eu e o mundo baseiam-se claramente na experiência extremamente limitada de um pai e uma mãe específicos que reagem a questões particulares. Essa experiência é excessivamente personalizada pelo pensamento mágico, que diz que "toda essa experiência é organizada para mim e diz respeito a mim"; as conclusões resultantes também são exageradamente generalizadas, uma vez que só podemos avaliar o desconhecido através daquilo que conhecemos até aqui. Com início tão tendencioso, estreito e invariavelmente prejudicial, agregamos percepções, comportamentos e reações, marchando em direção à vida com uma visão parcial.

O caráter individual dessa defeituosa noção do eu, bem como as estratégias que são desde cedo elaboradas e moldadas numa personalidade variam segundo a natureza da experiência infantil. A partir de cada categoria de sofrimento - de abandono ou de opressão - um complexo de comportamentos se expande como reação inconsciente e reflexa.

Quando a criança é oprimida, ela vivencia a imensidão do Outro jorrando através de frágeis fronteiras. Por não possuir o poder de escolher outras circunstâncias de vida, por não possuir nem a objetividade de identificar a natureza do problema como Outro, e por não possuir os elementos necessários a uma experiência comparativa, a criança reage de forma defensiva, tornando-se excessivamente sensível ao ambiente e "escolhendo" a passividade, a co-dependência ou a compulsividade para proteger o frágil território psíquico. A criança aprende variadas formas de acomodação, pois a vida é vista como inerentemente opressiva para um eu relativamente impotente. (...)

Amanda Jasnowski

Diante do abandono - ou seja, proteção e carinho insuficientes - a criança poderá "escolher" padrões de dependência e/ou passar toda a vida na busca incessante de um Outro mais positivo. Desse modo, uma mulher que na infância sofrera de negligencia passou a procurar mais tarde um parceiro após o outro, mas sempre terminava seus relacionamentos desiludida e frustrada. Em parte sua necessidade emocional afastava os homens, e em parte ela inconscientemente escolhia homens emocionalmente distantes. Seu pai nunca estivera emocionalmente disponível para ela e sua vida formou-se reflexivamente ao redor da percepção dupla e autodestrutiva de si mesma como "aquela a quem nada darão e que portanto merece isto", e a vã esperança de que o homem seguinte pudesse compensar a ferida pai-filha interior.

Essas feridas, bem como as várias reações inconscientes adotadas pela criança interior, tornam-se fortes determinantes da personalidade adulta, A criança não consegue incorporar uma personalidade que se expressa livremente; em vez disso, é a experiência da infância que molda eu papel no mundo. A partir do sofrimento da infância, portanto, a personalidade adulta é mais uma reação reflexa às primeiras experiências e traumas da vida que uma séria de escolhas.

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