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Destaques

Experiências típicas do processo de individuação, por Leonardo Climaco.

A morte das projeções, o fim das ilusões. O ser humano costuma chegar no ápice de seu desenvolvimento profissional e familiar na meia idade, após muitos anos se sacrificando para atingir algum status social modulando o seu comportamento pelas expectativas culturais e pressões coletivas, finalmente chega o ponto de reavaliar as escolhas e redefinir o rumo que a vida está tomando, e quando isso é feito com sinceridade, a necessidade de mudança fica evidente. As mudanças chegam a consciência em função da clara percepção da finitude da vida com a proximidade da velhice, da insatisfação pelos papéis assumidos de forma inconsciente, e pelo redescobrimento de tendências inatas que foram reprimidas e que comumente retornam a superfície da consciência nesse momento de transição limiar. Carl Jung - Red Book (Liber Novus) Nessa dinâmica, somos radicalmente arremessados em direção a rica e inexplorada vida interior do inconsciente, local onde seremos obrigados a descobrir o significado do conflito

Glossário de Psicologia Analítica

Glossário de Psicologia Analítica

Alma

C.G. Jung: “Se a alma do homem é algo, deve ser infinitamente complicada e de uma diversidade ilimitada, impossível de ser aprendida por uma simples psicologia dos instintos. É com a mais profunda admiração e com o maior respeito que, mudo, posso considerar os abismos e os cumes da natureza psíquica, os quais povoam o universo não espacial de uma indizível abundância de imagens, que milhões de anos de evolução viva amontoaram e acumularam organicamente. Minha consciência é como que um olho que abarca os espaços mais distantes, mas o não eu psíquico é aquilo que de maneira não espacial preenche esse espaço. Essas imagens não são apenas sombras pálidas; são fatores e condições psíquicas de poder imenso.
Poderemos talvez negligenciá-las, mas não lograremos, através dessa negação subtrair-lhe o poder. Tal impressão, comparativamente, seria semelhante à contemplação de um céu noturno estrelado, pois o equivalente do mundo interior só pode ser o mundo exterior e, como atinjo este último por intermédio do corpo é através da alma que atinjo o mundo interior. “Seria uma blasfêmia afirmar que Deus pode manifestar-se em toda parte menos na alma humana. Com efeito, a grande intimidade de relação entre Deus e a alma exclui automaticamente toda depreciação desta última. Sem dúvida, falar de afinidade é um exagero; mas de qualquer modo a alma deve possuir em si mesma uma faculdade de relação, isto é, uma correspondência com a essência de Deus; senão, como seria possível o estabelecimento de uma relação? Essa correspondência em termos psicológicos é o arquétipo da imagem de Deus.”
(C.G. Jung, Memórias, sonhos, reflexões)

Alquimia

Química arcaica que precedeu a química experimental e onde se mesclavam especulações gerais, figuradas e intuitivas, parcialmente religiosas, a respeito da natureza e do homem. Na matéria desconhecida eram projetados numerosos símbolos que hoje reconhecemos como conteúdos do inconsciente. O alquimista procurava “o segredo de Deus” na matéria desconhecida e se empenhava em preocupações e caminhos semelhantes aos da psicologia moderna do inconsciente. Esta última acha-se também confrontada com um fenômeno objetivo desconhecido: o inconsciente.

A alquimia filosófica da Idade Média deve ser compreendida, na perspectiva da história do espírito, como um movimento compensatório do inconsciente, em face do cristianismo; pois o objeto das meditações e da técnica alquimista — o domínio da natureza e da matéria — não encontrou lugar nem uma valorização adequada dentro do cristianismo; foi por ele considerado como algo a ser superado. Assim pois a Alquimia é uma espécie de imagem especular primitiva e obscura do mundo de imagens e pensamentos cristãos, tal como Jung mostrou em seu livro Psicologia e religião, mediante a analogia da ideia central dos alquimistas relativamente à pedra — o lápis — com o Cristo. A imagem simbólica e o paradoxo são típicos da linguagem dos alquimistas. Ambos correspondem à natureza inapreensível da vida e da psique inconsciente. Por esse motivo, por exemplo, afirma-se que a pedra não é uma pedra (isto é, ela representa ao mesmo tempo um conceito espiritual e religioso) ou que o Mercúrio alquimista, o espírito da matéria, é evasivo, fugidio como um cervo, uma vez que é inapreensível. “Ele tem mil nomes”; nenhum exprime totalmente sua natureza, assim como nenhuma definição é capaz de delimitar com clareza total a essência de um conceito psíquico.
(C.G. Jung, Memórias, sonhos, reflexões)

Amplificação

Alargamento e aprofundamento de uma imagem onírica por meio de associações dirigidas e de paralelos tirados das ciências humanas e da história dos símbolos (mitologia, mística, folclore, religião,
etnologia, arte etc.), mediante o que o sonho se torna acessível à interpretação.
(C.G. Jung, Memórias, sonhos, reflexões)

Anima

As imagens arquetípicas do eterno feminino na consciência de um homem que formam um elo entre a consciência do ego e o inconsciente coletivo, e abrem potencialmente um caminho para o Si-mesmo. (Murray Stein)

Animus

As imagens arquetípicas do eterno masculino no inconsciente de uma mulher que formam um elo entre a consciência do ego e o inconsciente coletivo, e abrem potencialmente um caminho para o Si-mesmo. (Murray Stein)

Anima e Animus

Personificação da natureza feminina do inconsciente do homem e da natureza masculina do inconsciente da mulher. Tal bissexualidade psíquica é o reflexo de um fato biológico; o maior número de gens masculinos (ou femininos) determina os sexos. Um número restrito de imgens do sexo oposto parece produzir um caráter correspondente ao sexo oposto mas, devido à sua inferioridade, usualmente permanece inconsciente. 

C.G. Jung: “Desde a origem, todo homem traz em si a imagem da mulher; não a imagem desta ou daquela mulher, mas a de um tipo determinado. Tal imagem é, no fundo, um conglomerado hereditário inconsciente, de origem remota, incrustada no sistema vivo, tipo de todas as experiências da linhagem ancestral em torno do ser feminino, resíduo de todas as impressões fornecidas pela mulher, sistema de adaptação psíquico herdado... O mesmo acontece quanto à mulher. Ela também traz em si uma imagem do homem. A experiência mostra-nos que seria mais exato dizer: uma imagem de homens, enquanto no homem se trata em geral da imagem da mulher; sendo inconsciente, esta imagem é sempre projetada inconscientemente no ser amado; ela constitui uma das razões essenciais da atração passional e de seu contrário.” “A função natural do animus (como a da anima) consiste em estabelecer uma relação entre a consciência individual e o inconsciente coletivo. 

Analogamente, a persona representa uma zona intermediária entre a consciência do eu e os objetos do mundo exterior. O animus e a anima deveriam funcionar como uma ponte ou pórtico, conduzindo às imagens do inconsciente coletivo, assim como a persona representa uma ponte para o mundo.” Todas as manifestações arquetípicas, e portanto também o animus e a anima, têm um aspecto negativo e um aspecto positivo. Um aspecto primitivo e um aspecto diferenciado. C.G. Jung: “Em sua primeira forma inconsciente, o animus é uma instância que engendra opiniões espontâneas, involuntárias, exercendo uma influência dominante sobre a vida emocional da mulher; a anima é, por outro lado, uma instância que engendra sentimentos espontâneos, os quais exercem uma influência sobre o entendimento do homem, nele provocando distorções. (Ela virou-lhe a cabeça.) O animus é projetado particularmente em personalidades “espirituais” e toda espécie de “heróis” (inclusive tenores, “artistas”, esportistas etc.) A anima se apodera facilmente do elemento que na mulher é inconscientemente vazio, frígido, desamparado, incapaz de relação, obscuro e equívoco... No decurso do processo de individuação, a alma se associa à consciência do eu e possui, pois, um índice feminino no homem e masculino na mulher. A anima do homem procura unir e juntar, o animus da mulher procura diferenciar e reconhecer. São posições estritamente contrárias... No plano da realidade consciente constituem uma situação conflitual, mesmo quando a relação consciente dos dois parceiros é harmoniosa.” “A anima é o arquétipo da vida... pois a vida se apodera do homem através da anima, se bem que ele pense que a primeira lhe chegue através da razão (mind). Ele domina a vida com o entendimento, mas a vida vive nele através da anima. E o segredo da mulher é que a vida vem a ela através da instância pensante do animus, embora ela pense que é o Eros que lhe dá vida. Ela domina a vida, vive, por assim dizer, habitualmente, através do Eros; mas a vida real, que é também sacrifício, vem à mulher através da razão (mind), que nela é encarnada pelo animus.
(C.G. Jung, Memórias, sonhos, reflexões)

Arquétipo

Um padrão potencial inato de imaginação, pensamento ou comportamento que pode ser encontrado entre os seres humanos em todos os tempos e lugares. (Murray Stein)

"(...) Arquétipos são possibilidades herdadas para representar imagens similares, são formas instintivas de imaginar. São matrizes arcaicas onde configurações análogas ou semelhantes tomam forma. (...)"

"Como se origina os arquétipos?

Resultariam do depósito das impressões superpostas deixadas por certas vivências fundamentais, comum a todos os seres humanos, repetidas incontavelmente através de milênios. Vivencias típicas, tais como as emoções e fantasias suscitadas pelos fenômenos da natureza, pelas experiências com a mãe, pelos encontros do homem com a mulher e da mulher com o homem, vivencias de situações difíceis como a travessia de mares e de grandes rios, a transposição de montanhas, etc.
Seriam disposições inerentes à estrutura do sistema nervoso que conduziriam à produção de representações sempre análogas ou similares. Do mesmo modo que existem pulsões herdadas para agir de modo sempre idêntico (instintos), existiriam tendências herdadas para construir representações análogas ou semelhantes. (...)" (Nise da Silveira)

C.G. Jung: “O conceito de arquétipo... deriva da observação reiterada de que os mitos e os contos da literatura universal encerram temas bem-definidos que reaparecem sempre e por toda parte. Encontramos esses mesmos temas nas fantasias, nos sonhos, nas ideias delirantes e ilusões dos indivíduos que vivem atualmente. A essas imagens e correspondências típicas, denomino representações arquetípicas. Quanto mais nítidas, mais são acompanhadas de tonalidades afetivas vívidas... Elas nos impressionam, nos influenciam, nos fascinam. Têm sua origem no arquétipo que, em si mesmo, escapa à representação, forma preexistente e inconsciente que parece fazer parte da estrutura psíquica herdada e pode, portanto, manifestar-se espontaneamente sempre e por toda parte. 
“É muito comum o mal-entendido de considerar o arquétipo como algo que possui um conteúdo determinado; em outros termos, faz-se dele uma espécie de “representação” inconsciente, se assim se pode dizer. É necessário sublinhar o fato de que os arquétipos não têm conteúdo determinado; eles só são determinados em sua forma e assim mesmo em grau limitado. Uma imagem primordial só tem um conteúdo determinado a partir do momento em que se torna consciente e é, portanto, preenchida pelo material da experiência consciente. Poder-se-ia talvez comparar sua forma ao sistema axial de um cristal que prefigura, de algum modo, a estrutura cristalina na água-mãe, se bem que não tenha por si mesmo qualquer existência material. Esta só se verifica quando os íons e as moléculas se agrupam de uma suposta maneira. O arquétipo em si mesmo é vazio; é um elemento puramente formal, apenas uma facultas praeformandi (possibilidade de preformação), forma de representação dada a priori. As representações não são herdadas; apenas suas formas o são. Assim consideradas, correspondem exatamente aos instintos que, por seu lado, também só são determinados em sua forma. É impossível provar a existência dos arquétipos ou dos instintos, a não ser que eles mesmos se manifestem de maneira concreta. “Provavelmente a verdadeira essência do arquétipo não pode tornar-se consciente; ela é transcendente, ou, como a chamei, psicoide.” “Não devemos entregar-nos à ilusão de que finalmente poderemos explicar um arquétipo e assim “liquidá-lo”. A melhor tentativa de explicação não será mais do que uma tradução relativamente bem-sucedida, num outro sistema de imagens.”
(C.G. Jung, Memórias, sonhos, reflexões)

Compensação

O processo dinâmico auto regulador por meio do qual a consciência do ego e o inconsciente buscam o equilíbrio homeostático, o qual também promove a individuação e o desenvolvimento progressivo para a totalidade. (Murray Stein)

Complexo

Conteúdo autônomo do inconsciente pessoal cuja expressão sensível é usualmente formada através de lesão ou trauma psíquico. (Murray Stein)

Os complexos são agrupamentos de conteúdos psíquicos carregados de afetividade. Compõem-se primariamente de um núcleo possuidor de intensa carga afetiva. Secundariamente estabelecem-se associações com outros elementos afins, cuja coesão em torno do núcleo é mantida pelo afeto comum a seus elementos. Formam-se assim verdadeiras unidades vivas, capazes de existência autônoma. Segundo a força de sua carga energética, o complexo torna-se um imã para todo fenômeno psíquico que ocorra ao alcance de seu campo de atração. (Nise da Silveira)

Consciência do ego

A porção da psique composta de pensamentos, memórias e sentimentos de fácil acesso, em cujo centro se encontra o ego, o "eu". (Murray Stein)

Ego

O centro da consciência, o "eu". (Murray Stein)

"Jung define o ego como um complexo de elementos numerosos, formando, porém, unidade bastante coesa para transmitir impressão de continuidade e de identidade consigo mesma. Dada sua composição feita de múltiplos elementos, Jung usa frequentemente a expressão complexo do ego, em vez de ego simplesmente. "A luz da consciência tem muitos graus de brilho e o complexo do ego muitas gradações de força" " (Nise da Silveira)

Energia psíquica (ver libido)

"(...) Enquanto Freud atribui à libido significação exclusivamente sexual, Jung denomina libido a energia psíquica tomada num sentido amplo. Energia psíquica e libido são sinônimos. Libido é apetite, é instinto permanente de vida que se manifesta pela fome, sede, sexualidade, agressividade, necessidades e interesses os mais diversos. Tudo isso está compreendido no conceito de libido. A ideia junguiana de libido aproxima-se bastante da concepção de vontade ,segundo Schopenhauer. (...)". (Nise da Silveira)

Extroversão

Uma atitude habitual da consciência que prefere o envolvimento ativo com objetos, em vez do minucioso e estrito exame dos mesmos. (Murray Stein)

Função transcendente

O elo psíquico criado entre a consciência do ego e o inconsciente como resultado da prática de interpretação dos sonhos e da imaginação ativa, e essencial, portanto, para a individuação da segunda metade de vida. (Murray Stein)

Imago

A representação ou uma imagem psíquica de um objeto, como um dos pais, a qual não deve ser confundida com o objeto real. (Murray Stein)

Inconsciente

A porção da psique situada fora do conhecimento consciente. Os conteúdos do inconsciente são constituídos por memórias recalcadas e por material, como pensamentos, imagens, emoções, que nunca foram conscientes. O inconsciente está dividido em inconsciente pessoal, o qual contém os complexos, e o inconsciente coletivo, que aloja as imagens arquetípicas e os grupos de instintos. (Murray Stein)

Individuação

O processo de desenvolvimento psíquico que leva ao conhecimento consciente da totalidade. Não confundir com individualismo. (Murray Stein)

Precisamente no confronto do inconsciente com o consciente, no conflito como na colaboração entre ambos é que os diversos componentes da personalidade amadurecem e unem-se numa síntese, na realização de um individuo especifico e inteiro. Essa confrontação "é o velho jogo do martelo e da bigorna: entre os dois, o ser humano, como o ferro, é forjado num todos indescritível, num individuo. isso em termos toscos, é o que eu entendo por processo de individuação". (Jung)"
"O processo de individuação não consiste num desenvolvimento linear. É um movimento de circunvolução que conduz ao um novo centro psíquico. (Nise da Silveira)

Instinto

Uma fonte inata, fisicamente baseada, de energia psíquica (ou libido) que é formada e estruturada na psique por uma imagem arquetípica. (Murray Stein)

Introversão

Uma atitude habitual da consciência que prefere a introspeção e o exame estrito e minucioso das relações com os objetos. (Murray Stein)

Libido

ou "Energia psíquica", tem afinidades com o conceito filosófico de "força vital". A libido é quantificável e pode ser medida. (Murray Stein)

Neurose

Uma atitude habitual de rígida unilateralidade na consciência do ego, a qual defensiva e sistematicamente exclui da consciência ou conteúdos inconscientes. (Murray Stein)

Estado de desunião consigo mesmo, causado pela oposição entre as necessidades instintivas e as exigências da cultura, entre os caprichos infantis e a vontade de adaptação, entre os deveres individuais e coletivos. A neurose é um sinal de parada para o indivíduo que está num caminho falso, e um sinal de alarme que o induz a procurar um processo de cura pessoal. 
C.G. Jung: “A perturbação psíquica de uma neurose e a própria neurose podem ser concebidas como um ato frustrado de adaptação. Esta formulação corresponde à opinião de Freud, para quem a neurose constitui, num certo sentido, uma tentativa de autocura.” 
“A neurose é sempre o substituto de um sofrimento legítimo.”
(C.G. Jung, Memórias, sonhos, reflexões)

Numinoso 

Conceito de Rudolf Otto (“o Sagrado”), que designa o inexprimível, misterioso, tremendo, o “totalmente outro”, propriedades que possibilitam a experiência imediata do divino.

Mandala (sânscrito)

Círculo mágico. Na obra de C.G. Jung, símbolo do centro, da meta, e do si mesmo, enquanto totalidade psíquica; autorrepresentação de um processo psíquico de centralização da personalidade, produção de um centro novo desta última. A mandala exprime-se, simbolicamente, por um círculo, um quadrado ou um quatérnio, num dispositivo simétrico do número quatro e de seus múltiplos. No lamaísmo e na ioga tântrica, a mandala é um instrumento de contemplação (iantra), lugar de nascimento dos deuses. Mandala perturbada: toda forma derivada e desviada do círculo, do quadrado ou da cruz de braços iguais e cujo número de base é diferente de quatro ou de seus múltiplos.

C.G. Jung: “Mandala significa círculo, e mais especialmente, círculo mágico. As mandalas não se difundiram só em todo Oriente, mas também existem entre nós; foram representadas abundantemente, na Idade Média. São numerosas no início da Idade Média no mundo cristão: muitas delas têm o Cristo no centro e os quatro evangelistas ou seus símbolos nos quatro pontos cardeais. Esta concepção deve ser muito antiga, uma vez que entre os egípcios Hórus era representado do mesmo modo, com seus quatro filhos.” “Como a experiência mostra, as mandalas aparecem mais frequentemente... em situações de perturbação e indecisão. O arquétipo que essa situação constela como compensação representa um esquema ordenador que vem, de algum modo, colocar-se acima do caos psíquico, como um círculo dividido em quatro partes iguais, ajudando cada conteúdo a encontrar seu lugar e contribuindo para manter sua coesão.”
(C.G. Jung, Memórias, sonhos, reflexões)

Persona

A interface psíquica entre o individuo e a sociedade que constitui a identidade social de uma pessoa. (Murray Stein)

Para estabelecer contatos com o mundo exterior, para adaptar-se às exigências do meio onde vive, o ser humano assuma uma aparência que geralmente não corresponde ao seu modo de ser autentico. Apresenta-se mais como os outros esperam que ele seja, ou como ele desejaria ser, do que realmente é. A esse aparência artificial Jung chama persona, designação muito adequada, pois os antigos empregavam esse nome para denominar a máscara que o ator usava segundo o papel que ia representar. O professor, o médico, o militar, por exemplo, de ordinário mantém uma fachada de acordo com as convenções coletivas, quer no vestir, no falar ou nos gestos. Os moldes da persona são recortes tirados da psique coletiva. (Nise da Silveira)

Projeção

A exteriorização de conteúdos psíquicos inconscientes, ora para fins defensivos (como no caso da sombra), ora para fins de desenvolvimento e integração (como no caso da anima e do Si-mesmo). (Murray Stein)

Psicóide

Um adjetivo referente às fronteiras da psique, uma das quais estabelece o contato direto com o corpo e o mundo físico, e a outra com o domínio do "espirito". (Murray Stein)

Psicose

Um estado de possessão em que a consciência do ego é inundada pelo inconsciente e frequentemente busca defender-se pela identificação com uma imagem arquetípica. (Murray Stein)

Si-mesmo

O centro, fonte de todas as imagens arquetípicas e de todas as tendências psíquicas inatas para a aquisição de estrutura, ordem e integração. (Murray Stein)

É o arquétipo central da ordem, da totalidade do homem, representado simbolicamente pelo círculo, pelo quadrado, pelo quatérnio, pela criança, pela mandala etc. 

C.G. Jung: “O si mesmo é uma realidade ‘sobreordenada’ ao eu consciente. Abrange a psique consciente e a inconsciente, constituindo por esse fato uma personalidade mais ampla, que também somos... Mas não devemos nutrir a esperança de chegar a uma consciência aproximada do si mesmo; por mais consideráveis e extensas que sejam as paisagens interiores e os setores apreendidos pela consciência, não desaparecerá a massa imprecisa e uma soma desconhecida de inconsciência, que também faz parte integrante da totalidade do si mesmo.”

“O si mesmo é o centro e também a circunferência completa que compreende ao mesmo tempo o consciente e o inconsciente: é o centro dessa totalidade, como o eu é o centro da consciência.” “O si mesmo é também a meta da vida, pois é a expressão mais completa dessas combinações do destino que se chama: indivíduo.”
(C.G. Jung, Memórias, sonhos, reflexões)

Sincronicidade

A coincidência significativa de dois eventos, um interior e psíquico, e outro exterior e físico. (Murray Stein)

Sombra

Os aspectos rejeitados e inaceitáveis da personalidade que são recalcados e formam uma estrutura compensatória para os ideais de Si-mesmo do ego e para a persona. (Murray Stein)

"(...) a sombra (em sentido psicológico) faz parte da personalidade total. As coisas que não aceitamos em nós, que nos repugnam e que por isso reprimimos, nós as projetamos no outro, sele ele um vizinho, o nosso inimigo político ou uma figura-símbolo como o demônio. E assim permanecemos inconscientes de que as abrigamos dentro de nós. Lançar luz sobre os recantos tem como resultado o alargamento da consciência. Já não é o outro quem está sempre errado. Descobrimos que frequentemente "a trave" está em nosso próprio olho." (Nise da Silveira)

Sonho

C.G. Jung: “O sonho é uma porta estreita, dissimulada naquilo que a alma tem de mais obscuro e íntimo; essa porta se abre para a noite cósmica original, que continha a alma muito antes da consciência do eu e que a perpetuará muito além daquilo que a consciência individual poderá atingir. Pois toda consciência do eu é esparsa; distingue fatos isolados, procedendo por separação, extração e diferenciação; só o que pode entrar em relação com o eu é percebido. A consciência do eu, mesmo quando aflora as nebulosas mais distantes, é feita de enclaves bem-delimitados. Toda consciência especifica. Mediante o sonho, inversamente, penetramos no ser humano mais profundo, mais geral, mais verdadeiro, mais durável, mergulhado ainda na penumbra da noite original, quando ainda estava no Todo e o Todo nele, no seio da natureza indiferenciada e despersonalizada. 
O sonho provém dessas profundezas, onde o universo ainda está unificado, quer assuma as aparências mais pueris, as mais grotescas, as mais imorais.”

Os sonhos não são invenções intencionais e voluntárias mas, pelo contrário, são fenômenos naturais que não diferem daquilo que representam. Não iludem, não mentem, não deformam, não encobrem, mas comunicam ingenuamente o que são e o que pensam. Só são irritantes e enganadores se não os compreendermos. Não utilizam artifícios para dissimular alguma coisa; dizem à sua maneira o que constitui seu conteúdo e da maneira mais nítida possível. Mas, quer sejam originais ou difíceis, a experiência demonstra que sempre se esforçam por exprimir algo que o eu não sabe e não compreende.”

Tipo psicológico

A combinação de uma de suas atitudes (extroversão ou introversão) com uma de quatro funções (pensamento, sentimento, sensação ou intuição) para formar uma distinta orientação habitual de consciência do ego. (Murray Stein)

Totalidade

O sentido emergente de complexidade e integridade psíquica que se desenvolve no transcurso de uma vida inteira. (Murray Stein)

Referencias
Jung, Carl Gustav: Memórias, sonhos, reflexões, 35ª edição, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 2021
da Silveira, Nise, Jung: vida e obra, 1ª edição, Rio de Janeiro, Paz e terra, 2023.
Stein, Murray, Jung: o mapa da alma, uma introdução, 5ª edição, São Paulo, Cultrix, 2006.


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