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Destaques

Sonhos: mensageiros do Inconsciente, portais para a totalidade. por Leonardo Climaco

A psicologia analítica junguiana oferece uma abordagem ampla e profunda sobre os sonhos, considerando-os como uma porta de entrada para o entendimento do inconsciente e um instrumento essencial para a jornada da individuação. Jung reconheceu os sonhos como expressões significativas da totalidade da psique, não limitados aos aspectos reprimidos do inconsciente. Para ele, os sonhos são mensagens simbólicas do inconsciente, carregando não apenas de experiências pessoais, mas também de elementos arquetípicos presentes no inconsciente coletivo. "Os sonhos são a manifestação mais imediata do que é essencialmente irrepresentável na consciência. São indicações claras de que o inconsciente não é apenas um depósito, mas uma das fontes mais profundas da vida psíquica. [...] Eles trazem mensagens e revelações, nos mostram facetas inexploradas da personalidade, e são uma via de acesso ao inconsciente coletivo."   (Jung, 2021) Carl Jung - Red Book (Liber Novus) Os sonhos, na maioria das ve

Individuação: O Mito Junguiano para a nossa época, Por James Hollis

Abaixo, trecho do capitulo 5 do livro "A passagem do meio" de James Hollis.

A Experiência da passagem do meio não é diferente de acordar e descobrir que estamos sozinhos, balançando num navio, sem nenhum porto à vista. Nossas únicas opções são voltar a dormir, pular do navio ou agarrar o leme e seguir viagem.

No momento da decisão, a grande aventura da alma nunca está mais clara. Ao agarrarmos o leme, assumimos a responsabilidade pela jornada, por mais assustadora que ela possa ser, por mais solitária ou injusta que possa parecer. Quando não agarramos o leme, permanecemos presos na primeira idade adulta, presos nas aversões neuróticas que constituem nossa personalidade atuante e, por conseguinte, a separação de nós mesmos (...)

Jung escreve em sua auto biografia:

"Vi frequentemente as pessoas ficarem neuróticas quando se contentam com respostas inadequadas ou erradas às questões da vida. Elas buscam posição, casamento, reputação, sucesso exterior ou dinheiro, e permanecem infelizes e neuróticas mesmo quando conseguem o que estavam procurando. Essas pessoas estão geralmente confinadas dentro de um horizonte espiritual estreito. Sua vida não possui conteúdo suficiente, significado suficiente. Quando lhes permitido se desenvolver e adquirir uma personalidade mais ampla, a neurose geralmente desaparece"

Jung e individuação

A ideia de Jung é fundamental, pois todos nós vivemos uma vida comprimida dentro dos estreitos limites da nossa época, lugar e história pessoal. Para vivermos uma vida mais abundante, somos obrigados a compreender os limites dentro dos quais fomos criados. A premissa implícita da nossa cultura, ou seja, que seríamos felizes através do nosso materialismo, no narcisismo, ou do hedonismo, foi claramente a falência. Aqueles que abraçaram esses valores não estão nem felizes nem completos. Não precisamos de "verdades" não examinadas e sim de um novo mito vivo, ou seja, uma estrutura de valor que oriente as energias da alma de forma condizente com a nossa natureza. Embora frequentemente seja útil remexer nos fragmentos do passado em busca de imagens que nos falem como indivíduos, raramente é possível abraçar as mitologias de outro tempo e lugar. Somos obrigados a descobrir a nossa.

A necessidade de encontramos nosso caminho é óbvia, mais importantes obstáculos se colocam no caminho. Reexaminemos por um instante os sintomas que caracterizam a transição da meia-idade. São eles o tédio, a repetição, mudança de emprego ou de parceiro, o uso de drogas ou álcool, pensamentos ou atos autodestrutivos, infidelidade, depressão, ansiedade e crescente compulsividade. Por trás desses sintomas existem duas verdades fundamentais. A primeira é que há uma enorme força que vem de baixo. Sua urgência é sentida como destruidora, e causa ansiedade quando reconhecida e depressão quando reprimida. A segunda verdade fundamental é que os antigos padrões que conservaram afastada essa urgência interior se repetem com crescente ansiedade, porém com cada vez menos eficácia. Mudar de emprego ou de parceiro não muda a maneira como nos sentimos em relação a nós mesmos com o decorrer do tempo. Quando a crescente pressão interior se torna cada vez mais difícil de ser contida pelas antigas estratégias, uma crise de individualidade explode. Não sabemos quem somos, realmente, além dos papeis sociais e dos reflexos psíquicos. E não sabemos o que fazer para reduzir a pressão. 

Esses sintomas anunciam a necessidade de uma mudança substantiva na vida da pessoa. O sofrimento acelera a consciência e, a partir de uma nova consciência, uma nova vida pode surgir. A tarefa é assustadora, pois precisamos primeiro reconhecer que não existe salvação, nem pais que fazem tudo melhor e nenhuma maneira de voltar a uma época anterior. O Si-mesmo tentou crescer exaurindo as desgastadas estratégias do ego. A estrutura do ego que nos esforçamos tanto para criar se revela agora insignificante, assustada e sem respostas. Na meia-idade, o Si-mesmo conduz o conjunto do ego a uma crise a fim de realizar uma correção no curso.

Jung

Debaixo dos sintomas que caracterizam a passagem do meio está a suposição de que seremos salvos encontrando e nos ligando a alguém ou a algo no mundo exterior. Para o bem do marujo de meia-idade que está afundando, não existem esses preservadores de vida. Estamos no vagalhão da alma, certamente junto com muitas outras pessoas, mas precisamos nadar com nossas próprias forças. A verdade é simplesmente que aquilo que devemos saber virá de dentro de nós. Se pudermos alinhar a nossa vida com essa verdade, não importa quão difíceis os desgastes do mundo, sentiremos um efeito benéfico, esperança e vida nova. A experiência do início da infância, e posteriormente da nossa cultura, nos alienou de nós mesmos. Só podemos retomar nosso curso restabelecendo a ligação com a nossa verdade interior (...)

"Se trouxeres à tona o que está dentro de ti, o que está dentro de ti te salvará. Se não trouxeres à tona o que está dentro de ti, o que não trouxeres à tona te destruirá." 

Elaine Pagels, The Gnostic Gospels, p.152

(...) O conceito de individuação representa o mito de Jung para a nossa época no sentido de conjunto de imagens que guiam as energias da alma. Simplesmente descrita, a individuação é a imposição evolutiva de cada um de nós de nos tornarmos a nós mesmos o mais completamente que formos capazes, dentro dos limites que nos são impostos pela nossa sina. Mais uma vez, a não ser que enfrentemos conscientemente nossa sina, ficaremos presos a ela. Precisamos separar quem somos daquilo que adquirimos, nosso senso de eu de facto porém falso. "Eu não sou o que me aconteceu, eu sou o que escolhi tornar-me". Precisamos dizer conscientemente essa frase todos os dias para que possamos nos tornar mais do que prisioneiros da nossa sina. (...)

(...) Desse modo, a preocupação com a individuação não é narcisista; é a melhor maneira de servir à sociedade e apoiar a individuação de outras pessoas. O mundo não é servido por aqueles que se alienam de si mesmos e dos outros. A individuação, como conjunto de imagens orientadoras que constituem ao mesmo tempo a meta e o processo, é útil à pessoa que, por sua vez, contribui para a cultura. "o essencial é importante apenas como ideia" escreve Jung, "o essencial é a opus que conduz à meta; essa é a meta de toda uma vida"

Jung individuação

Quando agarramos o leme no convés do capitão, mal conhecemos o nosso rumo, sabendo apenas que a coisa precisa ser feita, vivemos a grande aventura da alma. No final das contas, é a única jornada que vale a pena empreender. A tarefa da primeira metade da vida é fortalecermos suficientemente o ego para deixamos nossos pais e ingressarmos no mundo. Essa força torna-se disponível na segunda metade para a mais ampla jornada da alma. O eixo então se desloca do sentido ego-mundo para o ego Si-mesmo e o mistério da vida desabrocha de maneiras sempre renovadas. Não se trata de uma negação da nossa realidade social e sim de um restabelecimento do caráter essencialmente religioso de nossa vida. Por conseguinte, Jung sugeriu que precisamos indagar de uma pessoa

"Se ela está ou não ligada a algo infinito. Está é a poderosa pergunta da sua vida... Se compreendermos e sentirmos que nessa vida já temos um vinculo com o infinito, nossos desejos e nossas atitudes sofrem uma transformação. Numa análise final, só valemos alguma coisa por causa do essencial que personificamos, se se não personificamos isso, a vida será desperdiçada"

Memories, Dreams, reflections, p.325.

A capacidade de enfrentar, num relacionamento, aquilo que é maior que o nosso ego significa ser enformado e transformado por isso. (...) Precisamos nos conhecer mais plenamente e nos conhecer no contexto do mistério maior.

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